“Aristides Sousa Mendes recusou seguir as ordens do seu governo (o regime de Salazar) e concedeu vistos a refugiados de todas as nacionalidades que desejavam fugir da França em 1940, ano da invasão da França pela Alemanha Nazi na Segunda Guerra Mundial. Aristides salvou dezenas de milhares de pessoas do Holocausto. Cerca de 30 000 vistos foram emitidos pelo cônsul Sousa Mendes, dos quais 10 000 a refugiados de confissão judaica.
Aristides de Sousa Mendes que viveu entre 19 de Julho de 1885 e 3 de Abril de 1954 foi um diplomata português. Nasceu em Cabanas de Viriato, no distrito de Viseu. Oriundo de família aristocrática católica, conservadora e monárquica, instala-se em Lisboa em 1907 após a Licenciatura em Direito pela Universidade de Coimbra. Opta então pela carreira diplomática ocupando assim cargos inerentes em diversas delegações consulares portuguesas pelo mundo fora: Zanzibar, Brasil, Estados Unidos da América.
Em 1929 é nomeado Cônsul Geral em Antuérpia, cargo que ocupa até 1938. O seu empenho na promoção da imagem de Portugal não passa despercebido. É condecorado por duas vezes por Leopoldo III, rei da Bélgica, tendo-o feito oficial da Ordem de Leopoldo e comendador da Ordem da Coroa, a mais alta condecoração belga. Depois de cerca de10 anos de serviço na Bélgica, Salazar, presidente do Conselho e ministro dos negócios estrangeiros, nomeia Sousa Mendes cônsul em Bordéus, França.
Quando a Segunda Guerra Mundial teve início e as tropas de Hitler avançaram sobre a França, Aristides de Sousa Mendes era ainda cônsul de Bordéus. Embora Salazar tenha declarado neutralidade de Portugal, ordenou aos cônsules portugueses espalhados pelo mundo que recusassem passar vistos de entrada em Portugal a "estrangeiros de nacionalidade indefinida, contestada ou em litígio; os apátridas; os Judeus, quer tenham sido expulsos do seu país de origem ou do país de onde são cidadãos".
Em 1940 muitos dos refugiados que fogem do avanço Nazi afluem ao consulado português desejando obter um viso de entrada em Portugal. É em Junho desse ano que Aristides decide entregar visto a todos os refugiados que o solicitem: "A partir de agora, eu darei vistos a toda a gente, já não há nacionalidades, raça ou religião".
Sousa Mendes guiou com a sua viatura uma coluna de veículos de refugiados em direcção à fronteira com a França. O feito impressionou de tal forma os guardas aduaneiros que acabaram por deixar passar todos os refugiados que desse modo continuaram a sua viagem com destino a Portugal.
Confrontado com os primeiros avisos de Lisboa, ele terá dito: "se há que desobedecer, prefiro que o seja a uma ordem dos homens do que a uma ordem de Deus".
Salazar tomou então medidas contra o cônsul Aristides o qual continuou a sua actividade de 20 a 23 de Junho em Bayonne, no escritório de um vice-cônsul estupefacto, e mesmo na presença de dois outros funcionários de Salazar. A 22 de Junho de 1940, a França pediu um armistício à Alemanha Nazi. Mesmo a caminho de Hendaye, Aristides continua a emitir visos para os refugiados que cruzam com ele a caminho da fronteira, uma vez que a 23 de Junho, Salazar demitira-o de suas funções de cônsul.
A 8 de Julho de 1940, Aristides encontra-se regressado a Portugal. Será punido pelo governo de Salazar: ele priva Sousa Mendes, pai de uma família numerosa, do seu emprego diplomático por um ano, diminui em metade o seu salário, antes de o enviar para a reforma. Para além disso, Sousa Mendes perde o direito de exercer a profissão de advogado. A sua licença de condução, emitida no estrangeiro, é-lhe retirada.
O cônsul demitido e sua família sobrevivem graças à solidariedade da comunidade judaica de Lisboa, que facilitou a alguns dos seus filhos os estudos nos Estados Unidos. Dois dos seus filhos participaram no Desembarque da Normandia.
Ele frequentou, juntamente com os seus familiares a cantina da assistência judaica internacional, onde fez impressão pelas suas ricas vestimentas e sua presença. Certo dia, teve de confirmar: "Nós também, nós somos refugiados".
Em 1945, Salazar felicitou-se por Portugal ter ajudados os refugiados, recusou-se no entanto a reintegrar Sousa Mendes no corpo diplomático.
A sua miséria será ainda maior: venda dos bens, morte de sua esposa em 1948, emigração dos seus filhos, com uma excepção.
Aristides de Sousa Mendes faleceu muito pobre a 3 de Abril de 1954 no hospital dos franciscanos em Lisboa. Não possuindo um fato próprio, foi enterrado numa túnica de franciscanos.”
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