domingo, abril 30, 2006

Mistério


"Odeie o pecado e ame o pecador"

Mohandas Karamchand Gandhi
(fundador do Estado Indiano)

sábado, abril 29, 2006

Hermeticamente fechado


1973
Ultimo 1º de Maio do Estado Novo

A história que aqui vou escrever remonta à data de 1 de Maio de 1973. É uma história sobre um terrível acontecimento que eu presenciei

Como é sabido, no calendário de feriados nacionais do regime instaurado em Portugal pelo gole de Estado de 28 de Maio de 1926 não constava o Dia do Trabalhador. Durante o Estado Novo, regime imposto por Salazar com a entrada em vigor da Constituição de 1933, em que as manifestações do “Dia do Trabalho” eram organizadas e controladas pelo Estado que tinha o controlo governamental dos sindicatos, o 1º de Maio não era também considerado dia descanso nacional.

O cidadão, contudo, cada vez mais inventava pequenos truques para clandestinamente assinalar aquele dia… Havia também quem de forma mais ou menos clara e organizada fizesse questão de demonstrar a sua insatisfação.

No dia 1 de Maio de 1973 morava, eu, em Campo de Ourique e tinha 17 anos de idade. Apesar de ser dia de trabalho, não fui trabalhar (não me recordo já porquê). - Sai à rua para ir tomar o pequeno-almoço por volta das dez horas ao Café, que ainda hoje tem o mesmo nome, “A Tentadora”. – Preferi a esplanada (ainda hoje quando lá vou a prefiro). Não foi necessário pedir nada. – O empregado já conhecia os meus gostos e trouxe-me o habitual galão e o caracol com manteiga e fiambre. – Deu-me os bons dias e questionou-me:

Por aqui a esta hora?! - Já viu o que é que aqueles tipos andam a fazer aqui á volta?

Olhei á nossa volta e rapidamente me apercebi que de facto havia na rua uma movimentação pouco usual! – Eram rapazes e raparigas estudantes mais ou menos da minha idade que, individualmente (não eram autorizados ajuntamentos), abordavam as pessoas que por ali passavam, registando as suas respostas, uns em papel, outros em gravadores de voz que traziam á tiracolo.

Não fiz comentários… – Naquela época qualquer comentário a propósito podia ser mal interpretado, para além de nunca se saber com quem se estava a falar… – Acção estudantil arriscada…!!! - Pensei.

De repente, eu e todas as outras pessoas que se encontravam naquela esplanada, tivemos de abandonar o local e de nos refugiar dentro das instalações do Café, perante a chegada abrupta de diversas carrinhas de onde emergia um avultado número de “polícias de choque” e de cães treinados para aquele tipo de agressão. – O absurdo instalou-se…

Pessoas a caírem no chão empurradas pelos cães e pelas bastonadas infligidas. - Uma rapariga que teria 15/16 anos de idade foi atirada para o chão junto à porta da florista, mesmo em frente ao Café, o cão que a fez cair só a largou quando, com os dentes, lhe arrancou um pedaço de uma mama, depois disso foi ainda brutalmente espancada à bastonada.

Triste dia este…
Que me marcou para toda a vida. A marca de um “espaço fechado e de um lugar de infelicidade” como era Portugal.

sexta-feira, abril 28, 2006

Arbítrio


Liberdade

Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

Sophia de Mello Breyner Andresen
(poetisa portuguesa)

quinta-feira, abril 27, 2006

Eternidade


"É tão absurdo dizer que um homem não pode amar a mesma mulher toda a vida, quanto dizer que um violinista precisa de diversos violinos para tocar a mesma música".

Honoré de Balzac
(romancista francês)

Nações


Чорнобиль

Chernobyl significa artemísia, uma planta medicinal que entre nós, portugueses, é conhecida por erva de São João. - Não é, contudo, desta planta que agora vou escrever, mas do seu nome. - Relaciono-o com o discurso político recente para a eventualidade de vir a ser instalada em Portugal uma central nuclear para produção de energia em substituição do petróleo.
Chernobyl, cidade Ucraniana, perto da fronteira com a Bielo-Rússia, foi há vinte anos palco do maior acidente nuclear da história da humanidade. Prevê-se que a tragédia venha a provocar a morte a 200.000 pessoas em todo o mundo, segundo estudos científicos sobre o assunto.
É conhecido o risco que se corre com a opção por este tipo de produção energética. No passado verão em Espanha, por exemplo, a ala de uma das suas centrais teve de ficar completamente imobilizada devido ao aquecimento que água destinada ao arrefecimento dos reactores sofreu devido á temperatura do ambiente e que poderia provocar sobreaquecimento e posterior explosão.
São, também, conhecidos os elevados custos directos de produção que esta actividade acarreta para além de outros indirectos, como são, por exemplo, os inerentes á manutenção de um sofisticado sistema de segurança para prevenção de eventuais ataques terroristas. - Feitas as contas, há especialistas que chegam á conclusão que o preço final do produto não beneficia em nada o consumidor… antes pelo contrário.
O elevado número países com acidentes nucleares é conhecido; - Brasil, EUA, México, Japão, China, Marrocos, Inglaterra, Alemanha, Itália, entre outros.
No âmbito da saúde das populações pode-se contar com a sua degradação. - Degradação provocada pela consequente criação de zonas ambientais de poluição radioactiva
Temo que em Portugal não haja bom senso sobre esta matéria e não se reflicta profundamente sobre todos os potenciais riscos conhecidos avançando-se assim para a criação desta preocupante solução de energia em vez de se investir forte e seriamente nas alternativas ecológicas.
Estou a ficar preocupado… muito preocupado! - Por tudo isto quero dizer já e agora:

ENERGIA NUCLEAR EM PORTUGAL???
NÃO, NÃO E NÃO!!!

terça-feira, abril 25, 2006

Abril


Soltam-se as amarras


“A Vitoria é muitas vezes uma coisa a prazo e raramente
é o culminar da coragem.......
O culminar da coragem, penso eu, é a liberdade.
A liberdade que vem de saber-se que nenhum poder
no mundo é capaz de quebrar-nos;
Que um espírito inquebrantável é a única coisa
sem a qual não podemos viver;
que, no fundo, é a coragem da convicção que move o mundo,
que torna possíveis todas as mudanças.”


Extraído do livro do médico, pintor, músico e escritor Fernando Chiotte
(parafraseando Paula Giddings)

segunda-feira, abril 24, 2006

Linda manhã

25 de Abril de 1974


Naquele dia…Contava eu 18 anos de idade. - Solteiro, trabalhador estudante, vivia em casa de meus pais.
Como sempre fazia, saí de casa pela manhã com destino ao emprego, cujo trajecto fazia a pé. Ao chegar a Amoreiras, em Lisboa, deparei-me com um enorme aparato militar, para a época.

Manobras militares em Lisboa?!! – Pensei.

Atravessei a rua.

Ao chegar ao passeio do outro lado da rua fui abordado por um militar graduado…
- Bom dia, para onde vai?
Vou trabalhar, respondi-lhe.
- Em que local?
Em São Sebastião da Pedreira. Trabalho no Hotel do Reno, disse-lhe.
- Onde reside?
Aqui mesmo, na Silva Carvalho.
- Volte para casa ligue a telefonia e fique com atenção às notícias.
Há algum problema?! – Perguntei-lhe.
- Siga o meu conselho, volte para trás e não saia de casa.

Assim fiz. – Naquela época era de todo desaconselhável não seguir as instruções da “autoridade”, como eram conhecidas as forças armadas e a polícia. Não senti, contudo, da parte daquele militar qualquer tique de autoritarismo, mas nunca se sabia… A coisa parecia séria!
Minha Mãe já sabia o que se passava. - Ficou aliviada quando me viu entrar em casa.
Fiquei atento ás notícias. Mas nada! A única coisa que se ouvia eram marchas militares.
Quis ir ter com meu Pai ao estabelecimento comercial que ele tinha lá em Campo de Ourique mas minha Mãe não deixou.
Finalmente lá ouvi:
“Daqui posto de comando …….”
O discurso foi extraordinário! Percebi tudo! - Era princípio do fim da ditadura!
Fui ter com meu Pai que se regozijava pelo evento. – Recordo-me de seus clientes o terem avisado para ter cuidado com o que dizia, pois a ditadura ainda não tinha caído.

Na rua já se viam pessoas a buzinar em seus automóveis e a exibiram a bandeira de Portugal. – A alegria instalara-se!
Foi um dia maravilhoso… Ao longo do dia todos tinham uma opinião a dar sobre o assunto embora ainda com receio de que alguém ligado à PIDE/DGS estivesse a ouvir.

Nos dias seguintes assistiu-se á distribuição de comida e café aos militares que estavam na rua e á libertação dos presos políticos. Na semana a seguir à revolução o primeiro 1º de Maio livre em Portugal. – Dia que recordo com muito agrado.

Passaram-se os dias, as semanas e os meses…

Saímos de uma… e estamos a entrar noutra…?! – Pensei.
Quero lá saber se a ditadura é a do proletariado… - Disse.

Passaram-se anos…

Hoje,
Trinta e dois anos depois daquele militar graduado me ter dado a notícia, estou contente por todos termos consolidado a democracia.


VIVA O 25 de ABRIL

domingo, abril 23, 2006

Recolhimento


Intimidade

Que ninguém
hoje me diga nada.
Que ninguém venha abrir a minha mágoa,
esta dor sem nome
que eu desconheço donde vem
e o que me diz.
É mágoa.
Talvez seja um começo de amor.
Talvez, de novo, a dor e a euforia de ter vindo ao mundo.

Pode ser tudo isso, ou nada disso.
Mas não afirmo.
As palavras viriam revelar-me tudo.
E eu prefiro esta angústia de não saber de quê.

Fernando Namora
(escritor português)

Aceitação


"Nunca julgamos aqueles a quem amamos"
Jean-Paul Sartre
(Escritor, Filósofo)

sábado, abril 22, 2006

Dogmas


TÍTULO E SUBTÍTULOS DO CARDEAL

O alemão Joseph Ratzinger foi eleito supremo líder espiritual da Igreja Católica Apostólica Romana a 19 de Abril de 2005. Os católicos romanos em todo o mundo festejaram recentemente o primeiro aniversário do seu exercício de poder teocrático.

Ao ter sido escolhido pela assembleia de cardeais para liderar os destinos políticos e espirituais da igreja passou a ser denominado PAPA em cujo título se congregam os seguintes subtítulos:

- Sumo Pontífice; Bispo e Patriarca de Roma; Vigário de Cristo; Primaz de Itália; Arcebispo da província Romana; Soberano do Estado do Vaticano; Sucessor do Príncipe dos Apóstolos, entre outros.

Renunciou ao título de Patriarca do Ocidente.

Adoptou o nome BENTO XVI.

No seu primeiro ano de exercício de autoridade eclesiástica não deu aos católicos qualquer sinal de abertura ao casamento civil entre homossexuais, ao uso de contraceptivos artificiais ou a uma maior participação da mulher na hierárquica da igreja.

As vozes críticas de há um ano que o rotulavam de ser um teólogo tradicionalista ferrenho e de ser um religioso incapaz de se mostrar disponível para encarar os problemas que a comunidade católica enfrentava, que aliás desde sempre enfrenta, relativamente á sexualidade, têm agora razão para dizer que não estavam enganados ao lhe terem atribuído mais um subtítulo ou título, como se quiser, o de “CONSERVADOR”.

sexta-feira, abril 21, 2006

Tentações


A coleira

Livre e confiante cidadão da Terra, eis que está preso a uma corrente longa o bastante para lhe proporcionar a liberdade sobre todo o espaço terrestre; conquanto longa apenas de maneira a que não o solicite coisa alguma fora dos limites da Terra. É ao mesmo tempo livre e confiante cidadão do Céu, e eis que está preso a igual corrente celeste.

Quando pende muito para a Terra, estrangula-o a corrente celeste; quando pende muito para o Céu, estrangula-o a coleira terrestre...

Tem todavia todos os recursos, sente isso; sim, mas obstina-se em negar que tudo se dava a um erro inicial na fixação dos grilhões.

Franz Kafka

quinta-feira, abril 20, 2006

"Escuta, Zé Ninguém"

"Escuta, Zé Ninguém!" não é um documento científico mas humano
(Trecho do livro de Wilhelm Reich com o título Escuta, Zé Ninguém)
"Chamam-te «Zé Ninguém!» «Homem Comum» e, ao que dizem, começou a tua era, a «Era do Homem Comum». Mas não és tu que o dizes, Zé Ninguém, são eles, os vice-presidentes das grandes nações, os importantes dirigentes do proletariado, os filhos da burguesia arrependidos, os homens de Estado e os filósofos. Dão-te o futuro, mas não te perguntam pelo passado.
Tu és herdeiro de um passado terrível. A tua herança queima-te as mãos, e sou eu que to digo. A verdade é que todo o médico, sapateiro, mecânico ou educador que queira trabalhar e ganhar o seu pão deve conhecer as suas limitações. Há algumas décadas, tu, Zé Ninguém, começaste a penetrar no governo da Terra. O futuro da raça humana depende, à partir de agora, da maneira como pensas e ages. Porém, nem os teus mestres nem os teus senhores te dizem como realmente pensas e és, ninguém ousa dirigir-te a única critica que te podia tornar apto a ser inabalável senhor dos teus destinos. És «livre» apenas num sentido: livre da educação que te permitiria conduzires a tua vida como te aprouvesse, acima da autocrítica.
Nunca te ouvi queixar: «Vocês promovem-me a futuro senhor de mim próprio e do meu mundo, mas não me dizem como fazê-lo e não me apontam erros no que penso e faço».
Deixas que os homens no poder o assumam em teu nome. Mas tu mesmo nada dizes. Conferes aos homens que detêm o poder, quando não o conferes a importantes mal intencionados, mais poder ainda para te representarem. E só demasiado tarde reconheces que te enganaram uma vez mais.
Mas eu entendo-te. Vezes sem conta te vi nu, psíquica e fisicamente nu, sem máscara, sem opção, sem voto, sem aquilo que fiz de ti «membro do povo». Nu como um recém-nascido ou um general em cuecas. Ouvi então os teus prantos e lamúrias, ouvi-te os apelos e esperanças, os teus amores e desditas. Conheço-te e entendo-te. E vou dizer-te quem és, Zé-ninguém, porque acredito na grandeza do teu futuro, que sem dúvida te pertencerá. Por isso mesmo, antes de tudo o mais, olha para ti. Vê-te como realmente és. Ouve o que nenhum dos teus chefes ou representantes se atreve a dizer-te: És o «homem médio», o «homem comum». Repara bem no significado destas palavras: «médio» e «comum»".

Pensamentos

Amor físico

O desejo exprime-se por uma carícia, tal como o pensamento pela linguagem.

Jean-Paul Sartre

quarta-feira, abril 19, 2006

Humanidade


Embora os meus olhos sejam
Os mais pequenos do mundo,
O que importa são que eles vejam
O que os Homens são no fundo.


António Aleixo
(poeta popular)

terça-feira, abril 18, 2006

Negro, Mercado

Ai a crise do petróleo


O petróleo não para de subir.

… É da tensão entre os EUA e o IRÃO, dizem!

O que é certo é que á pala do aumento de preço do ouro negro a taxa de inflação, em Portugal, aumentou 3% em relação à taxa homóloga de 2005.

É tudo a aumentar…
Ele é os transportes, a alimentação e as bebidas. Ele é a agua e a electricidade.
Ele é os juros e os impostos.
Espera...
Os impostos e os juros nada têm a ver com o petróleo. – Ou será que têm?!
Bem, os salários…
Os salários não devem ter nada a ver com o assunto, com certeza absoluta. - Estarei a fazer confusão?!


Bem, quando aumentam os preços, escudam-se na subida do preço do petróleo…
Mas quando o valor do barril baixa, não consigo ver nada a baixar a não ser o meu famoso “poder” de compra.

A organização económico-financeira do mercado português no que diz respeito ao petróleo deve ser um espanto! As gasolineiras actualizam imediatamente os preços de venda ao público na proporção do aumento que é anunciado internacionalmente pela bolsa, mas não o reduzem exactamente na mesma proporção quando essa mesma bolsa anuncia o contrário. O que é um facto é que á pala destas competentíssimas decisões de gestão, em on-line, digo eu, tiveram um aumento nos seus lucros de 300% em 2005.

… E eu, Zé Ninguém, a vê-los passar. A vê-los passar e a sentir os efeitos dessa politica de mercado, chamo-lhe eu, no meu exacto bolsinho.

O que eu gostava mesmo, é que houvesse alguém que me conseguisse explicar estas operações contabilísticas que se traduzem sempre a meu débito,
“como se eu tivesse quatro anos”, se faz favor.

Amor


"Nenhuma pessoa merece tuas lágrimas, e quem as mereça não te farão chorar"
Gabriel Garcia Marquez

segunda-feira, abril 17, 2006

Wilhelm Reich

Escuta, Zé Ninguém

O Tema de hoje refere-se ao título de um livro que li pela primeira vez há mais de vinte anos. Ainda hoje o desfolho e acabo invariavelmente por me fixar numa ou outras páginas, matando assim saudades de tão interessante literatura. Acho mesmo, na minha humilde opinião, que deveria ser lido por todo o ser humano, pela sua permanente actualidade, apesar de ter sido escrito no verão de 1946.
Aqui vai, então, quem foi o autor:
Wilhelm Reich, cientista e médico, nasceu em 1897 na Galícia que naquela altura pertencia ao Império Austro-Húngaro.
Escreveu o livro Escuta, Zé Ninguém para os arquivos do Instituto Orgone, que fundou, pois não havia o propósito de o publicar. A sua publicação ocorreu, no momento em que se questionava o encerramento do Instituto e até a sua destruição.
De pensamento inconformista, revolucionário e independente, W. Reich colocou-se na situação de pessoa não grata à esquerda e também foi abominado pela direita. Foi expulso do Partido Comunista, perseguido pelos nazis e até pelos democratas norte-americanos. Foi excluído do grupo de psicanalistas e acusado de charlatanismo.
Os problemas que teve com os poderes instituídos foram inúmeros. Confrontou e criticou, com o seu pensamento e a sua irreverência as instituições totalitárias e repressivas da época.
Escreveu diversos livros como: O Carácter Impulsivo; A Função do Orgasmo; Maturidade Sexual, Continência, Moral Conjugal; O Aparecimento da Moral Sexual; A Luta Sexual da Juventude; Psicologia de Massa do Fascismo; Análise do Carácter, entre outros.
Fez os seus últimos trabalhos de investigação e escreveu os seus últimos livros na sua pequena propriedade do Maine.
Foi julgado e condenado a dois anos de prisão, em Maio de 1956, nos Estados Unidos da América.
O apelo interposto à sentença foi recusado, Wilhelm Reich é preso em Março de 1957. Em Pensilvânia, na penitenciária de Ludwigburg, morre, em Novembro desse mesmo ano, de um ataque cardíaco.

domingo, abril 16, 2006

Leopardo


É preciso que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma
Esta frase é, como é sabido, da autoria do escritor italiano, Giuseppe Tomaso di Lampedusa.
Frase que me foi parafraseada pela primeira vez na minha juventude. – Pretendia-se assim tipificar o comportamento político do estadista e ditador português, António de Oliveira Salazar.
Tenho actualmente 51 anos e desde então, aqui e ali, oiço a célebre frase, inevitavelmente dirigida à acção dos políticos.
Antigamente, a frase encaixava que nem uma luva. Salazar, líder de um regime autoritário, desenvolveu metodologias fascizantes que, iludindo-se a si mesmo, tentava enganar o Zé-Povinho. Recordo-me da greve da Carris em que poucos foram detidos e todos foram aumentados, vinte escudos no seu salário, e em que algum tempo depois “representantes dos trabalhadores” foram a São Bento agradecer ao ditador. Recordo-me também daquilo que foi a defesa intransigente da sua política colonialista que se consubstanciou numa política de isolamento internacional embora o que nos tenha sido transmitido tenha sido a defesa da unidade nacional sob o lema nacionalista “Orgulhosamente sós”. Lembro-me de tanta coisa… para além daquilo que o regime fazia e não era dada qualquer explicação… Recordo-me daquilo que foi, provavelmente, a maior humilhação infligida aos portugueses pelo regime e que antecedeu a sua queda. Refiro-me à substituição de Salazar por Marcelo Caetano. Salazar acabou por ser vítima da sua própria estratégia fascizante. - Adoeceu. Ficou incapacitado física e intelectualmente. Faleceu, anos depois. Não lhe deram a dignidade de saber que já não governava Portugal. Nunca ninguém o ousou fazer. – Os que com ele privavam diariamente fizeram-lhe crer que ainda continuava a governar.
Mas então e hoje?!
Porque motivo continuamos a ilustrar a actividade politica com a célebre frase “é preciso que…. para que tudo fique na mesma”?
Será que continuamos a assistir a políticas de disfarce?!
Bem,
Fizemos a revolução dos cravos…
Aprovámos uma Constituição (Lei fundamental da Republica) …
Aderimos à Comunidade Económica Europeia…
Consolidámos a Democracia… (de contrário seria impossível dizer o que aqui escrevo)
Ora, então se adoptámos aquelas premissas após o fim do regime Salazarista em que nada ficou na mesma, porque continuamos a proferir a célebre frase?!
… Prometo voltar ao assunto.