segunda-feira, abril 24, 2006

Linda manhã

25 de Abril de 1974


Naquele dia…Contava eu 18 anos de idade. - Solteiro, trabalhador estudante, vivia em casa de meus pais.
Como sempre fazia, saí de casa pela manhã com destino ao emprego, cujo trajecto fazia a pé. Ao chegar a Amoreiras, em Lisboa, deparei-me com um enorme aparato militar, para a época.

Manobras militares em Lisboa?!! – Pensei.

Atravessei a rua.

Ao chegar ao passeio do outro lado da rua fui abordado por um militar graduado…
- Bom dia, para onde vai?
Vou trabalhar, respondi-lhe.
- Em que local?
Em São Sebastião da Pedreira. Trabalho no Hotel do Reno, disse-lhe.
- Onde reside?
Aqui mesmo, na Silva Carvalho.
- Volte para casa ligue a telefonia e fique com atenção às notícias.
Há algum problema?! – Perguntei-lhe.
- Siga o meu conselho, volte para trás e não saia de casa.

Assim fiz. – Naquela época era de todo desaconselhável não seguir as instruções da “autoridade”, como eram conhecidas as forças armadas e a polícia. Não senti, contudo, da parte daquele militar qualquer tique de autoritarismo, mas nunca se sabia… A coisa parecia séria!
Minha Mãe já sabia o que se passava. - Ficou aliviada quando me viu entrar em casa.
Fiquei atento ás notícias. Mas nada! A única coisa que se ouvia eram marchas militares.
Quis ir ter com meu Pai ao estabelecimento comercial que ele tinha lá em Campo de Ourique mas minha Mãe não deixou.
Finalmente lá ouvi:
“Daqui posto de comando …….”
O discurso foi extraordinário! Percebi tudo! - Era princípio do fim da ditadura!
Fui ter com meu Pai que se regozijava pelo evento. – Recordo-me de seus clientes o terem avisado para ter cuidado com o que dizia, pois a ditadura ainda não tinha caído.

Na rua já se viam pessoas a buzinar em seus automóveis e a exibiram a bandeira de Portugal. – A alegria instalara-se!
Foi um dia maravilhoso… Ao longo do dia todos tinham uma opinião a dar sobre o assunto embora ainda com receio de que alguém ligado à PIDE/DGS estivesse a ouvir.

Nos dias seguintes assistiu-se á distribuição de comida e café aos militares que estavam na rua e á libertação dos presos políticos. Na semana a seguir à revolução o primeiro 1º de Maio livre em Portugal. – Dia que recordo com muito agrado.

Passaram-se os dias, as semanas e os meses…

Saímos de uma… e estamos a entrar noutra…?! – Pensei.
Quero lá saber se a ditadura é a do proletariado… - Disse.

Passaram-se anos…

Hoje,
Trinta e dois anos depois daquele militar graduado me ter dado a notícia, estou contente por todos termos consolidado a democracia.


VIVA O 25 de ABRIL

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