quarta-feira, maio 31, 2006

Palavras nunca ditas

Image: Fernando Penim Redondo


Palavras tão belas pensei
Enquanto dormir tentava
Fui buscar papel e caneta
E quando tentei escrever
A palavra teimava
Em não aparecer
Que pena gravado não as ter
Na memória do pensamento
Aquelas palavras
Tão belas
Que pensei naquele momento

SF

terça-feira, maio 30, 2006

Intolerâncias Radicais -1/4

“Logo após assumir o poder, em Janeiro de 1933, Adolf Hitler começou a montar um sistema ditatorial caracterizado pela repressão a todos que não lhe fossem convenientes, pela perseguição aos judeus motivada por uma ideologia anti-semita e pela expansão militar e territorial.

A partir de 1930 o movimento nazista de Adolf Hitler adquiriu importância, aproveitando-se do descontentamento popular com as crises económica e política. O Partido Nacional-Socialista (NSDAP) era antidemocrático, anti-semita e de um nacionalismo exaltado. Com uma pregação pseudo-revolucionária, tornou-se a maior força política em 1932. Com a demissão de Franz von Papen, o último chanceler da República de Weimar, o presidente Hindenburg chamou Hitler para constituir o novo governo.
Nomeado chanceler do Reich em 30 de Janeiro de 1933, Hitler, que considerava o cargo apenas um passo para a tomada do poder absoluto, começou imediatamente a montar um sistema ditatorial. Desfez-se rapidamente dos aliados que permitiram sua ascensão, reservando-se plenos poderes. Através de uma lei aprovada pelos partidos burgueses, proibiu todos os agrupamentos políticos, com excepção do seu NSDAP. O Partido Social Democrata e o Partido Comunista foram dissolvidos e os demais, forçados à auto dissolução.
O incêndio do prédio do Reichstag (parlamento), em 27 de Fevereiro de 1933, logo atribuído aos comunistas, serviu de pretexto para a aprovação de leis que revogaram os direitos fundamentais, puseram fim à liberdade de imprensa e desmantelaram os sindicatos, principal esteio dos movimentos sociais contrários ao nacional-socialismo.

Repressão e anti-semitismo - Bildunterschrift: A partir de então, não havia instância policial ou estatal capaz de conter os distúrbios e agressões das SA, as temidas milícias paramilitares do Partido Nacional-Socialista. O esquadrão comandado por Heinrich Himmler, a SS (Schutzstaffel), começou a sedimentar sua posição especial no aparato repressivo. Qualquer tentativa de resistência era brutalmente sufocada. O regime perseguia impiedosamente não só adversários políticos - a começar por comunistas e social-democratas -, como todas as pessoas que não eram do seu agrado. Milhares foram presas e, sem qualquer processo judicial, internadas em campos de concentração construídos da noite para o dia.
Mal tomara o poder, o regime começou a pôr em prática seu programa anti-semita. Passo a passo, os judeus foram despojados de seus direitos individuais e civis, proibidos de exercer a profissão e de frequentar certos locais, expulsos de universidades, agredidos, forçados a entregar ou vender empresas e propriedades. Quem podia, tentava fugir para o exterior para se pôr a salvo das espoliações, injustiças e vexações.
A perseguição política e a ausência de liberdade de expressão e informação levaram milhares de pessoas a abandonar o país. A emigração forçada de inúmeros intelectuais, artistas e cientistas de renome representou uma perda irreparável para a vida cultural da Alemanha.
Militarização e recuperação económica - Bildunterschrift: Com a morte do marechal Paul Hindenburg em 1934, Hitler acumulou também a função de presidente. Sua política militarista tomava forma e as forças armadas passaram a prestar-lhe juramento como Führer (líder ou guia). Em 1935, foram declaradas extintas as restrições militares do Tratado de Versalhes, introduzindo-se o serviço militar geral e obrigatório, com o que se restabeleceu a soberania militar do Reich.
A frágil República de Weimar (de 1919 a 1932) não durou o suficiente para que o sistema liberal-democrático estabelecesse raízes profundas na sociedade alemã. O caos durante esse período deixou muitos alemães propensos à aceitação da ditadura nacional-socialista. Os violentos conflitos internos, manifestos em sangrentas batalhas de rua entre adversários políticos e o desemprego em massa haviam abalado a confiança do povo no poder do Estado. Hitler, porém, conseguiu dinamizar novamente a economia. Seu regime impôs uma combinação extremada de capitalismo e socialismo estatal, em que tanto os proprietários de grandes empresas como os operários se subordinavam ao controle do Estado e ao poder público totalitário. Dois planos quadrienais, iniciados em 1936, davam à economia um aspecto de guerra, com destaque para a produção de sintéticos. Programas de geração de empregos e a produção de armas levaram à diminuição do exército de desempregados. O fim da crise económica mundial favoreceu tal política. Os judeus foram sendo excluídos da vida económica, tendo seus bens confiscados em Novembro de 1938.

Política externa - No âmbito da política externa, Hitler também conseguiu impor seus objectivos, inicialmente. A pouca resistência encontrada foi fortalecendo a sua posição. Em 1935, a região do Sarre, até então sob a administração da Liga das Nações, foi reintegrada no território nacional. Em 1936, as tropas alemãs invadiram a Renânia, zona desmilitarizada desde 1919. A assinatura de um pacto com o Reino Unido, em 1935, permitiu o rearmamento naval da Alemanha até 35% do poderio britânico. Desmoronava, assim, todo o esquema de contenção da Alemanha, armado pelos franceses desde o fim da Primeira Guerra Mundial.
A guerra civil espanhola, iniciada em 1936, motivou um confronto entre esquerda e direita. Enquanto o governo republicano foi apoiado pela União Soviética, os rebeldes franquistas tiveram ajuda da Itália e da Alemanha. Os dois países aliaram-se em Outubro do mesmo ano, no eixo Roma-Berlim. Japão e Alemanha, por outro lado, haviam se unido no Pacto Anti-Komintern. Com a adesão da Itália a Este, em 1937, configurava-se a Tríplice Aliança, que se manteria até a Segunda Guerra.
O avanço para a formação do Terceiro Reich prosseguiu: em 1938, a Áustria foi anexada (Anschluss), com o que Hitler cumpriu o que fixara como um de seus primeiros objectivos no livro Mein Kampf (Minha Luta). As potências ocidentais permitiram que ele incorporasse ainda a região dos Sudetos, na Checoslováquia, em 1939, ano em que começou a Segunda Guerra Mundial.”

Extraído do site DW-WORLD. DE DEUSTSCHE WELLE

segunda-feira, maio 29, 2006

Bioesfera

Energia Renovável.
Regular ou Controlar?

ENERGIA NUCLEAR EM PORTUGAL???
NÃO, NÃO E NÃO!!!

domingo, maio 28, 2006

A sul dos sentidos

--------Image: judi
Como se fosse uma tempestade

Quando a água debaixo do chuveiro
A resgatou do seu aturdimento
De olhos fechados imagina
Milhares de gotas apressadas
A salpicar-lhe o manto da infância
Como se fosse uma tempestade
De algum longínquo veraneio.

Na estancia a que os conduziu
Os descaminhos da noite
Pede “seca-me os cabelos”
Como lhe faziam em menina.

Depois vai à janela e encara
De frente um céu assombrado:
Estas horas passarão num ápice
Chegará o dia e o adeus
E só ficará a ausência.

O frio roça-lhe a pele húmida.

José Agustin Goytisolo
(poeta espanhol)

sábado, maio 27, 2006

Perversidades


Criança que estás a sofrer
Grita. Faz-te ouvir
Não deixes que alguém
Te faça chorar ou cair

Teus sonhos
Estragados estão
Entraram no teu ser
Magoaram teu coração

Pobre criança
Só e indefesa
Sonhos perdidos
Vives na tristeza

Quebraram a magia
Própria. A tua inocência
Magoaram-te profundamente
Para própria conveniência

Não vivas calada
Querida criança
Grita aos sete ventos
Aguarda pela esperança

Quem foi o monstro?

Maltratou o teu coração
Quebrou a magia
Perdes-te a alegria
Não merece perdão

Quem foi o monstro?

Matou teus sonhos
Atirou-te à solidão

Mas segue em frente
Criança
Cicatriza teu coração

Não há monstro no Mundo
Que mereça a tua tristeza
Abre teus lábios num sorriso
Não há melhor no Universo
Essa riqueza
A alegria de te ver sorrir.

SF

sexta-feira, maio 26, 2006

Erotismos



Segredo

Nem o tempo tem tempo
Para sondar as trevas
Deste rio correndo
Entre a pele e a pele
Nem o Tempo tem tempo
Nem as trevas dão tréguas
Não descubro o segredo
Que o teu corpo segrega.

David Mourão Ferreira
(escritor português)

quinta-feira, maio 25, 2006

IN EXTREMIS


Droga

Estás só…
Estás só e perdido
Vives desiludido
Pelo êxtase…
Que a droga te proporciona
Mas ficaste agarrado
E agora vives pedrado
Não vives sem ela,
Não consegues sair dela.

És como um cão vadio
Toda a gente te escorraça
Andas sozinho pela praça
Com os braços picados
Os lábios selados.

Agora vives só…
A noite cai lentamente
Só. Ouves a solidão
A vida passa-te pela frente
Já quase não sentes o coração.

O frio gela-te os ossos,
Ninguém te dá a mão;
Entras em agonia
Já não ouves a melodia
Que entrava em sintonia
Na tua alma, no teu coração.

Chegas ao fim,
Deixaste-te levar
Morres só…
Tal como um cão
Que na rua foi abandonado
E vive só
Desde então.

SF

quarta-feira, maio 24, 2006

Constatações



Li no Diário de Notícias de hoje duas constatações que me deixaram animado…

Que Portugal se destaca, pela positiva, de qualquer outro ex-império europeu porque nas últimas três décadas resolveu em 12 anos quatro grandes desafios em simultâneo e que outras economias poderosas demoraram 40 anos a concluir desafios semelhantes: “Descolonização, democratização, integração europeia e construção de uma nova economia”. – A constatação foi feita recentemente pelo Professor Marcelo Rebelo de Sousa no antigo Casino Lisbonense.

No mesmo local, há 135 anos, Antero de Quental palestrava sobre o tema “Causas da Decadência dos Povos Peninsulares” e declarava: "Portugueses e espanhóis, vamos de século para século minguando em extensão e importância, até não sermos mais do que duas sombras, duas nações espectros, no meio dos povos que nos rodeiam!"

Eu, ao constatar com agrado que os peninsulares conseguiram resolver o pessimismo de Quental, fico encorajado a acreditar que os jovens do nosso país com o potencial académico que têm à sua disposição saberão conduzir o futuro de Portugal a profícuos resultados.

terça-feira, maio 23, 2006

Pragmatismos



A Portugal
Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela.
Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada.
Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fatua ignorância;
terra de escravos, cu pró ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,
devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de heróis a peso de ouro e sangue,
e santos com balcão de secos e molhados
no fundo da virtude; terra triste
à luz do sol calada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeiros
que deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;
terra de monumentos em que o povo
assina a merda o seu anonimato;
terra-museu em que se vive ainda,
com porcos pela rua, em casas celtiberas;
terra de poetas tão sentimentais
que o cheiro de um sovaco os põe em transe;
terra de pedras esburgadas, secas
como esses sentimentos de oito séculos
de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:
eu te pertenço.
És cabra, és badalhoca,
és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração.
Eu te pertenço mas seres minha, não


Jorge de Sena
(poeta português)

segunda-feira, maio 22, 2006

Ressurgimentos


Depois da queda do muro de Berlim, em Novembro de 1989, os movimentos políticos de extrema-direita estão a assumir cada vez mais força na Europa.
Efectivamente tem-se sabido de recentes profanações de túmulos, incêndios a residências e assassinatos, e de outra acções de vandalismo xenófobas infligidas a judeus e estrangeiros na Áustria, Inglaterra, Itália, Espanha e Alemanha
Na Alemanha, por exemplo, o ressurgimento de grupos extremistas de inspiração nazi é de tal maneira preocupante que foi decidido implementar um cadastro nacional para registar as acções violentas por eles perpetradas.
De acordo com estudos divulgados pela Universidade alemã de Potsdam, dois terços dos jovens entre os 14 e 21 anos de idade do Leste são anti-semitas e simpatizantes de organizações neo-nazis.
Em Portugal muito recentemente o SIS veio alertar para o crescimento das actividades da extrema-direita com ligações a grupos internacionais nazis.
Há quem diga que o aparecimento da globalização entre outras coisas atraiu a juventude para ideologias radicais. - A identidade nacional deixou de ter o valor que tinha e o desemprego é cada vez maior. Diz-se também que o ensino sobre a história do fascismo, do nazismo e do próprio holocausto e da segunda guerra mundial tem sido extremamente precário e parcial em todos os países da Europa.

Há coisas que por mais que eu tente não consigo perceber…

Então os “carolas” da globalização não se lembraram dos riscos potenciais que essa mesma globalização poderia provocar nas pessoas levando-as a entrar em desespero pela falta de emprego com que se deparariam e acabarem por se virarem para ideologias radicais as quais invariavelmente culpam a democracia do rega bofe que se vive actualmente em todo o mundo?

Por mim tudo farei para explicar aos meus filhos o que são os extremismos ideológicos e quais os perigos para a humanidade que as acções radicais provocam nas sociedades, porque, como disse Churchill, a democracia, tendo grandes defeitos, é sem qualquer duvida o melhor sistema politico que a humanidade inventou.

domingo, maio 21, 2006

Consciência


“Eu sou espírito

Embora a minha existência física seja confirmada no tempo e no espaço, a minha consciência não tem as mesmas limitações. Estou consciente de todo o campo como um jogo de criação e destruição. Matéria e energia vêm e vão, tremeluzindo para dentro e para fora das nossas existências como pirilampos, e no entanto todos os eventos se articulam uns com os outros e são em ordem pela inteligência profunda que perpassa através de todas as coisas. Eu sou um aspecto dessa inteligência. Sou o campo que se desdobra em eventos locais.
O meu espírito experimenta o mundo material através das lentes da percepção, mas mesmo que eu nada consiga ver e ouvir, ainda assim sou, uma eterna presença da consciência.
Em termos práticos, esta realização torna-se real quando nenhum evento externo pode abalar o sentido do ego. Uma pessoa que se conhece como espírito nunca perde a visão do experimentador no meio da experiência. A sua verdade interior afirma «carrego comigo a consciência da imortalidade no meio da mortalidade».”

Deepak Chopra
(médico e cientista)

sábado, maio 20, 2006

Interpretativos, Pensamentos


"Isto
Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!”
Fernando Pessoa

sexta-feira, maio 19, 2006

Luandino Vieira


"A mulher é um anjo do céu
Veio ao mundo p'ra sofrer e amar
Mas os homens
Não se lembram quando juram
Só pretendem as mulheres p'ra enganar"

Prémio Camões 2006

O Prémio Camões 2006 foi hoje atribuído ao escritor angolano Luandino Vieira.
É o mais importante galardão literário da Língua Portuguesa, no valor de cem mil euros.

José Luandino Vieira, nascido na Lagoa do Furadouro, Ourém em Portugal no dia 4 de Maio de 1935, adquire a cidadania angolana pela sua participação no movimento de libertação de Angola e contribuição no nascimento da República Popular de Angola.

Foi preso diversas vezes pela PIDE, a primeira vez em 1959, passou pelo Tarrafal onde esteve 8 anos, foi libertado em 1972 em regime de residência vigiada em Lisboa.
Iniciou então a publicação da sua obra na grande maioria escrita nas diversas prisões por onde passou.
Depois da independência de Angola a partir de 1975 organizou e dirigiu a Televisão angolana, o Instituto Angolano de Cinema, foi Secretário-Geral adjunto da Associação dos Escritores Afro-asiáticos e Secretário-Geral da União dos Escritores Angolanos.
Parabéns, Luandino.

quinta-feira, maio 18, 2006

Incomensurável


“Assim que nascemos, dependemos dos cuidados e do carinho dos nossos pais. Mais tarde, na vida, quando adoecemos e ficamos velhos, dependemos de novo da bondade dos outros. Estando nós tão dependentes da bondade alheia no princípio e no fim da nossa vida, como podemos, no meio, esquecer a bondade para com os outros?”

Tenzin Gyatso, o XIV Dalai Lama

(extraído de um artigo dedicado ao povo Bodhisattva, escrito por Patrícia Fonseca na revista EGOÍSTA de Setembro de 2003)

quarta-feira, maio 17, 2006

Galardão


Uma Amiga pediu-me que publicasse poemas da sua autoria.
Aqui vai então um dos poemas que a partir de agora passarei a transcrever:

Os dias passam,
A solidão permanece…
Recordar um grande amor,
Alguém que não se esquece

Pensar na felicidade
Que foi breve

Que preencheu meu coração
Depressa o partiu,
O amor fugiu,
Deixou-me na escuridão.

Os dias passam,
Cacos partidos se juntam
Com a cola invisível do tempo

Encontro outro alguém
Que me ama como ninguém.

SF

NOTA: A autora deu-me o privilégio de ser da minha responsabilidade a colocação do título e da imagem.

terça-feira, maio 16, 2006

O Livro


"Escuta, Zé Ninguém!" não é um documento científico mas humano
(Trecho do livro de Wilhelm Reich com o título Escuta, Zé Ninguém)

"… És o «homem médio», o «homem comum». Repara bem no significado destas palavras: «médio» e «comum».
Não fujas. Tem ânimo e contempla-te. «Que direito tem este tipo de dizer-me o que quer que seja?» Leio esta pergunta nos teus olhos - amedrontados. Ouço-a na sua impertinência, Zé Ninguém. Tens medo de olhar para ti próprio, tens medo da crítica, tal como tens medo do poder que te prometem e que não saberias usar. Nem te atreves a pensar que poderias ser diferente: livre em vez de deprimido, directo em vez de cauteloso, amando às claras e não mais como um ladrão na noite. Tu mesmo te desprezas, Zé Ninguém, Dizes: «Quem sou eu para ter opinião própria, para decidir da minha própria vida e ter o mundo por meu?» E tens razão: Quem és tu para reclamar direitos sobre a tua vida? Deixa-me dizer-te.
Diferes dos grandes homens que verdadeiramente o são apenas num ponto: todo o grande homem foi outrora um Zé Ninguém que desenvolveu apenas uma outra qualidade: a de reconhecer as áreas em que havia limitações e estreiteza no seu modo de pensar e agir. Através de qualquer tarefa que o apaixonasse, aprendeu a sentir cada vez melhor aquilo em que a sua pequenez e mediocridade ameaçavam a sua felicidade. O grande homem é, pois, aquele que reconhece quando e em que é pequeno. O homem pequeno é aquele que não reconhece a sua pequenez e teme reconhecê-la; que procura mascarar a sua tacanhez e estreiteza de vistas com ilusões de força e grandeza, força e grandeza alheias. Que se orgulha dos seus grandes generais, mas não de si próprio. Que admira as ideias que não teve, mas nunca as que teve. Que acredita mais arraigadamente nas coisas que menos entende, e que não acredita no que quer que lhe pareça fácil de assimilar.
Comecemos pelo Zé Ninguém que habita em mim: Durante vinte e cinco anos tomei a defesa, em palavras e por escrito, do direito do homem comum à felicidade neste mundo; acusei-te pois da incapacidade de agarrar o que te pertence, de preservar o que conquistaste nas sangrentas barricadas de Paris e Viena, na luta pela Independência americana ou na revolução russa.
Paris foi dar a Pétain e Laval, Viena a Hitler, a tua Rússia a Stalin, e a tua América bem poderia conduzir a um regime KKK – Ku-Klux-Klan. Sabes melhor lutar pela tua liberdade que preservá-la para ti e para os outros. Isto eu sempre soube. O que não entendia, porém, era porque de cada vez que tentavas penosamente arrastar-te para fora de um lameiro acabavas por cair noutra ainda pior. Depois, pouco a pouco, às apalpadelas e olhando prudentemente em torno, entendi o que te escraviza: ÉS TU O TEU PRÓPRIO NEGREIRO. A verdade diz que mais ninguém senão tu é culpado da tua escravatura. Mais ninguém, sou eu que te digo!
Esta é nova, hein? Os teus libertadores garantem-te que os teus opressores se chamam Guilherme, Nicolau, papa Gregório XXVIII, Morgan, Krupp e Ford. E que os teus libertadores se chamam Mussolini, Napoleão, Hitler e Stalin.
Mas eu afirmo: Só tu podes libertar-te."

segunda-feira, maio 15, 2006

Movimentos perpétuos


Não te deixes manipular
Não deixes

A conta por pagar
O filho p’ra criar

O petróleo a liderar
O imposto a aumentar
A energia a galopar
A água a faltar

E o Governo a olhar.

O salário a baixar
Onde é q’isto vai parar
Não me posso reformar
Como vou eu poupar

E o Político a defecar.

A carne a não chegar
O leite a escassear
Não há peixe a mastigar
O pão a alternar

E Portugal a atrasar.

O Banco a engordar
O carro para arranjar
No bolso a faltar
Já não posso respirar

E por quem irei votar.

Não te deixes enganar
Não deixes

Não me deixo manipular
Não deixo

domingo, maio 14, 2006

Memorial

Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.
Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.
Há muitas coisas que eu quero ver.
Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o teu reino antes do tempo venha.
E se derrame sobre a Terra
Em primavera feroz precipitado.

Sophia de Mello Breyner

(dedico este poema ao meu querido filho Ruben Tiago. - 1978-1987)

sábado, maio 13, 2006

Origens



Folgosa, aldeia onde nasceu meu pai. Sempre que me encontrava, durante o verão em férias, na aldeia de minha mãe era costume ir com meus pais visitar a família paterna nesta aldeia muito interessante do concelho de Gois situada na Serra da Lousã.



Valtorto, pequena aldeia situada no principio da encosta do afamado e célebre Penedo de Góis, onde nasceu minha mãe. Quando era pequeno ia passar as férias escolares de verão nesta simpática aldeia com minha avó materna, que embora residisse em Lisboa fazia questão de lá juntar a família. Nessas alturas do ano eu, minha irmã e meus irmãos encontravamos as primas e primos, a tia, os tios e amigos. - Era uma permanente festa de alegria e de felicidade.

Bons momentos que ali passei...



Góis é uma vila portuguesa no Distrito de Coimbra, região Centro e sub-região do Pinhal Interior Norte, com cerca de 2 300 habitantes.
É sede de um município com 263,72 km² de área e 5 382 habitantes, subdividido em 5 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Arganil, a leste por Pampilhosa da Serra, a sudoeste por Pedrógão Grande e por Castanheira de Pêra, a oeste pela Lousã e a noroeste por Vila Nova de Poiares
Quando o rei D. Fernando conquistou Coimbra no ano de 1064 (segundo uns e 1058 segundo outros) deu aos seus barões e vassalos fieis vilas para povoar e edificar com direitos hereditários.
Parece que aqui deve ter nascido a doação do concelho de Góis, possivelmente a um godo que daria o nome à própria terra.Em 1143 no 1º dia de Agosto D. Teresa e D. Afonso fazem a doação da vila de Góis e lugares a ela pertencentes a Arnaldo Vestariz e a sua mulher Ermisenda (Torre do Tombo «Manuscrito da Livraria» n.º439) (1).
A ponte, sobre o rio Ceira, é formada por três arcos semicirculares. O arco central ostenta um escudo nacional ladeado por cruzes de Cristo encimando esferas armilares. A construção desta ponte data do século XVI. Terá sido mandada construir pelo rei D. Manuel.

sexta-feira, maio 12, 2006

Submissos, Laços

Aquela Ilha esquecida
Que eu habito adormecida
Que, à noite, eu vou habitar;

Aquela Ilha encantada
Que não se encontra de dia,
Pois fica na madrugada;

A Ilha não descoberta,
Onde a criptoméria aberta
Espalha em volta o luar.

Àquela ilha distante,
Não há ninguém que se afoite…

Aquela Ilha esquecida
Que só tem um habitante:
Eu que vivo de noite…


Natália Correia
(poetisa portuguesa)

quinta-feira, maio 11, 2006

Caminhos



"Longe dos estridentes

risos dos homens, a nossa

vida secreta movia-se."

Carol Ann Duffy - n.1955

quarta-feira, maio 10, 2006

Harmonia


No desprendimento revela-se o conhecimento da incerteza…
no conhecimento da incerteza revela-se a libertação
do passado, do desconhecido,
da prisão da circunstancia do passado.

E pela vontade de entrar no desconhecido,
no campo de todas as possibilidades,
entregamo-nos ao espírito criativo
que orquestra a dança do universo.

Deepak Chopra
(cientista e médico)

terça-feira, maio 09, 2006

Maternidades e Ambiguidades

O Governo de Portugal liderado pelo Secretário-geral do Partido Socialista, José Sócrates, prepara-se para desincentivar os casais, com idade para procriação, em usarem contraceptivo durante o acto sexual. – Não. Não é brincadeira!

De futuro, os casais que tenham menos de dois filhos serão penalizados na sua contribuição para a Segurança Social. – A medida foi anunciada recentemente em nome da absoluta necessidade de ter que se provocar uma explosão demográfica elevada no País para que fique assegurado o sistema financeiro da segurança social no sentido de que o mesmo não entre em falência efectiva daqui a 50 anos.

Parece incrível mas não é. - A partir do momento em que, como é sabido, a maioria dos jovens casais não têm filhos porque não podem, face ás dificuldades que enfrentam em obter sustentação económica e financeira adequada nas suas vidas, é estranho pensar que a medida anunciada venha a produzir os resultados esperados, a não ser que a taxa de agravamento seja tão atractiva que valha a pena uma tão vertiginosa mudança de atitude.


Por outro lado em nome da reunião de recursos financeiros que o Estado encetou com vista a baixar drasticamente a “despesa pública” está em marcha o encerramento de nove Maternidades em todo o País!!!
– Mas… mas então a explosão demográfica que se requer não exigirá que as Maternidades se mantenham abertas e melhor preparadas para darem a cobertura adequada ao evento?! - Como é que vai ser???? - Os futuros “rebentos” fabricados em Elvas passam a nascer em Badajoz?! – Terão nacionalidade portuguesa e naturalidade espanhola ou apenas nacionalidade europeia?!

Ora, se as pessoas passarem a reproduzir mais, como é que o farão melhor sem o indispensável apoio hospitalar?!
– Fico com a ideia de que se está perante uma enorme ambiguidade.

segunda-feira, maio 08, 2006

Competência


Paulo Bento foi indiscutivelmente o grande vencedor ao ter demonstrado uma excelente liderança disciplinar e técnica que impôs ao Sporting Clube de Portugal na segunda parte do campeonato para a liga de honra, momento em que tomou conta dos destinos futebolísticos da equipe na época de 2005/2006 e ter conquistado assim o segundo lugar.
Os “leões” estão de parabéns merecendo por isso um forte aplauso.

domingo, maio 07, 2006

Esta noite...


A noite passada sonhei com meu pai e com o seu primeiro automóvel (Vauxhall Velox), igual ao da foto, com a matricula CI-18-14. Eu tinha seis anos de idade, quando foi adquirido. - Foi uma festa... belas recordações.

sábado, maio 06, 2006

Ousadias



Adoras deitar-te na nossa cama desfeita.

Os nossos suores antigos não te incomodam.

Os nossos lençóis encardidos por sonhos esquecidos

os nossos gritos estampados no papel da parede

tudo isso exalta o teu corpo esfaimado.

O teu rosto desairoso ilumina-se então,

e os nossos desejos de ontem

são os teus sonhos de amanhã.

Joyce Mansour - escritora francesa

sexta-feira, maio 05, 2006

Mãe


Mãe
Há só uma
A nossa
Mais nenhuma

quinta-feira, maio 04, 2006

Bebamo-nos uns aos outros



A vida deve ser bebida
Estou
E num breve instante
Sinto tudo
Sinto-me tudo
Deito-me no meu corpo
E despeço-me de mim
Para me encontrar
No próximo olhar
Ausento-me da morte
não quero nada
eu sou tudo
respiro-me até à exaustão
Nada me alimenta
porque sou feito de todas as coisas
e adormeço onde tombam a luz e a poeira
A vida (ensinaram-me assim)
Deve ser bebida

Mia Couto
(poeta moçambicano)

quarta-feira, maio 03, 2006

O começo da tragedia


Mar

Na melancolia de teus olhos
Eu sinto a noite se inclinar
E ouço as cantigas antigas
Do mar.
Nos frios espaços de teus braços
Eu me perco em carícias de água
E durmo escutando em vão
O silêncio.
E anseio em teu misterioso seio
Na atonia das ondas redondas
Náufrago entregue ao fluxo forte
Da morte.

Vinicius de Moraes
(poeta brasileiro)

terça-feira, maio 02, 2006

Querida filha


"Criar uma criança é a maior forma de amor que um humano pode experimentar".

(Marsha Rock)

segunda-feira, maio 01, 2006

Apelo


Urgentemente
É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas
e rios e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor,
É urgente permanecer.

Eugénio de Andrade
(poeta português)